25 de nov. de 2010

Grupo EPARQ - anotações de Anna Szlejcher e José Maria Jardim


Caros coleg@s,

Com muito prazer difundo “O diálogo, "puxado" pelo Jardim, está ficando muito interessante. Concordo com ele em vários pontos..." 
Cynthia Roncaglio

Intercambio de opiniones em grupoeparq com respeito: 
A institucionalização da Arquivologia como campo científico.

Expreso una vez más mi admiración y mi compromiso con la posición científica de mi querido colega y amigo José Maria con respecto a la autonomía de la Archivología y destaco la claridad conceptual con la cual expresa su perspectiva epistemológica. Coincido y celebro la utilización del término ARQUIVOLOGIA (en español ARCHIVOLOGÍA) en lugar de Archivística para denominar a nuestra Ciencia o Disciplina. 

“Sem perda das possibilidades de interlocução outros campos, não creio que o debate científico tenha que se organizar sob o manto epistemológico ou políticoinstitucional da Ciência da Informação, da História ou da Administração. A vocação para “ciência auxiliar” da História ou da Administração, ainda não completamente superada, seria agora substituída por uma Arquivologia auto-colonizada com recursos político-institucionais da Ciência da Informação? “
“Autonomia disciplinar nada tem a ver com insulamento até porque a Arquivologia é, desde o século XIX, marcadamente multidisciplinar e interdisciplinar.”
“..a Arquivologia estará fadada a uma condição periférica e de pouca visibilidade como campo científico, se a formação dos arquivistas não contar com a pós stricto sensu no próprio campo.”
“Supondo que a reversão dessa situação seja um projeto do campo arquivístico brasileiro, qual a pauta que se coloca? No mínimo, mais doutores no campo da Arquivologia. Isso significa mais profissionais pesquisando, difundindo conhecimento arquivístico e ocupando espaço nas estruturas de C & T.“Isso requer um trabalho árduo em termos de pesquisa e publicação, mas também político.”
José Maria Jardim

Um abraço,

Anna Szlejcher

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A continuación texto completo de José María Jardim.

Date: Fri, 19 Nov 2010 11:48:58 -0200
Subject: [grupoeparq] A institucionalização da Arquivologia como campo científico
From: jardimbr@gmail.com

Prezada Rosa e demais colegas,

Vivemos um momento especial para a Arquivologia no Brasil que sugere aos seus docentes e pesquisadores um esforço de institucionalização do campo como espaço científico. Ao meu ver, isso significa um investimento político e científico em mecanismos de institucionalização da Arquivologia mediante mecanismos tais como a Reunião Brasileira de Ensino e Pesquisa em Arquivologia, a busca pela pósgraduação strictu sensu na área e uma Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Arquivologia.

Sem perda das possibilidades de interlocução outros campos, não creio que o debate científico na Arquivologia tenha que se organizar sob o manto epistemológico ou político-institucional da Ciência da Informação, da História ou da Administração. A vocação para “ciência auxiliar” da História ou da Administração, ainda não completamente superada, seria agora substituída por uma Arquivologia autocolonizada com recursos político-institucionais da Ciência da Informação?

Como pesquisador e professor de Arquivologia, ensino, pesquiso e difundo trabalhos na Ciência da Informação, mas não apenas na Ciência da Informação. Tenho mestrado e doutorado em Ciência da Informação porque reconheço diálogos possíveis e ricos entre esse campo e a Arquivologia, mas não pratico ou ensino Arquivologia como campo de aplicação da Ciência da Informação. Entre as ricas possibilidades de interlocução coma a Ciência da Informação e a subordinação da Arquivologia como sub-campo da CI há, no entanto, uma longa distância. Penso que um GT de Arquivologia no Enancib, apesar da importância desse evento, tende a consolidar ainda mais a visão - e talvez o projeto - da Arquivologia como sub-campo da Ciência da Informação. Autonomia disciplinar nada tem a ver com insulamento até porque a Arquivologia é, desde o século XIX, marcadamente multidisciplinar e interdisciplinar.

A esse respeito, retomo algumas considerações que partilhei com colegas no III Congresso Nacional de Arquivologia em 2008. Em anexo, envio a minha comunicação a respeito na I Reunião de Ensino e Pesquisa em Arquivologia, realizada em junho deste ano, na Universidade de Brasília, cujos anais encontram-se em vias de publicação pelos colegas da Unb.

A perspectiva interdisciplinar da Arquivologia- para mim, muito clara - não é plenamente consolidada. Trata-se de uma vertente em construção que acolhe profissionais que dela partilham, tanto quanto é objeto de discordância de outros. Esse, aliás, é um dos embates do campo, expresso em três visões:
  • a visão da Arquivologia com um campo autônomo, com bases consolidadas e, de certa forma, ciência auxiliar da História
  • a visão da Arquivologia como uma disciplina que constitui uma sub-área da CI (uma visão que ganha espaço especialmente no Brasil, sem sequer maior veiculação internacional ou respaldo consistente na produção cientifica) 
  • a visão de Arquivologia com uma disciplina científica em permanente construção, dotada de autonomia, porém exercida (ou potencialmente) exercida em diversos aspectos mediante relações interdisciplinares com a História, a Administração, a Ciência da Informação, a Biblioteconomia, a Museologia, a Sociologia, etc. Essa é hoje a minha perspectiva.
Por que temos discutido tanto as relações interdisciplinares entre Arquivologia e Ciência da Informação no Brasil?
  1. A perspectiva interdisciplinar na produção de conhecimento é uma questão fortemente presente nas agendas de políticas de pesquisa, educação e inovação na contemporaneidade.
  2. A discussão da interdisciplinaridade da Arquivologia ganha proporções nos anos 90, num momento em que efetivamente o saber e o fazer arquivísticos se defrontam com novas possibilidades e desafios que impoem a interlocução com outras áreas. Um exemplo: os princípios da representação da informação, no cerne da C.I., são extremamente interessantes para refletirmos sobre a a descrição arquivística.
  3. Conforme o trabalho que desenvolvi inicialmente com a Profa. Odila Fonseca, posteriormente o livro da Profa. Odila e outros trabalhos da Profa. Georgete Medleg, essas interfaces que envolvem Arquivologia e CI ainda são muito tênues e escassas, nos dois campos.
  4. Por outro lado, cabe lembrar que muitas vezes a interdisciplinaridade é uma retórica sedutora que nem sempre se plasma em processos concretos envolvendo dois ou mais campos do conhecimento. O princípio da interdisciplinaridade é muito convidativo, mas o fazer interdisciplinar é extremamente complexo e sofisticado. No caso da Arquivologia e da CI, parece que falamos mais dessas possibilidades interdisciplinares do que efetivamente as praticamos. Efetivamente, essas relações ainda estão longe de serem “estreitas”.
Há indicadores que sugerem ser este debate muito freqüente no Brasil, especialmente no que se refere à interdisciplinaridade Arquivologia e CI. Nos países com maiores teores de produção de conhecimento em Arquivologia, esse não é um debate muito presente. Isso não legitima e nem desqualifica o debate que se trava aqui, evidentemente. No entanto, sabemos que em nenhum desses países os cientistas da informação, através de suas organizações, reivindicam a Arquivologia como sub-área da CI. E nem tampouco os pesquisadores e profissionais de Arquivologia o fazem em direção à Ciência da Informação. 

Ideias mais freqüentes, presentes no caso brasileiro
  1. A Arquivologia é uma modalidade pragmática ou universo de aplicação de área de conhecimento denominada da "Ciência da Informação".
    Essa perspectiva reduz a Arquivologia a um campo de ampliação da CI, passando ao largo dos elementos teóricos da Arquivologia. Ainda que dispositivos teóricos da CI possam (e devam!) ser aplicados num universo empírico arquivístico, isso não equivale necessariamente a uma relação de subordinação entre Arquivologia e CI. Aliás, a literatura das duas áreas não aponta nessa direção, embora essa retórica tenha bastante espaço.
  2. A Arquivologia, junto com a Biblioteconomia e a Museologia se constituem na base da Ciência da Informação.
    Ao menos em relação à Arquivologia, basta analisar a história da área e também da CI para verificar que essa afirmação é inconsistente.
  3. A discussão da autonomia da Arquivologia é incompatível com o imperativo da sua interdisciplinaridade.
    Autonomia e relações interdisciplinares não são categorias excludentes. Um campo de conhecimento pode manter relações interdisciplinares com diversas outras áreas sem que sua autonomia seja diluída. Autonomia não significa insulamento.
  4. As distinções entre Arquivologia e Biblioteconomia seriam artificiais, expressando a “síntese” de “ Sistemas (tecnológicos) da Informação”.
    Todos os recortes no campo científicos são artificiais. Não são resultados “naturais”, mas derivam de embates, convergências, divergências, interpretações e vários fatores históricos. Ainda assim, o reconhecimento de que as informações que são objeto da Arquivologia não são as mesmas que são objeto da Biblioteconomia e da CI, parecem fazer sentido. Isso não impede-nos de reconhecermos, em vários temas, zonas de convergência e uma agenda comum de interesses de investigação. Operar com essas possibilidades não significa reduzir as especificidades de um ou mais campos do conhecimento.
  5. A Biblioteconomia e a Arquivística mantêm estreitas relações, no Brasil, por serem ofertadas por Departamentos de Ciência da Informação. Claro que o convívio de profissionais desses campos num mesmo recorte institucional como um Departamento de Ensino pode propiciar um ambiente favorável a  relações entre as duas disciplinas, mas isso não é, por si só, um condicionante. O fundamental, porém, são as interlocuções na pesquisa, no ensino, no reconhecimento de singularidades e especificidades nos diálogos entre esses campos. 
  6. Há um número considerável de dissertações e teses produzidas nos programas de pós-graduação em Ciência da Informação, com temáticas voltadas ou pelo menos relacionadas à Arquivística.
    A ausência de um programa de Mestrado e Doutorado em Arquivologia levou, nos últimos 15 anos, a uma procura, por parte dos arquivistas, a programas de pós em CI. Essa demanda, em menor escala, também levou profissionais do campo arquivístico a pós-graduação em História, Administração, Educação, Engenharia de Produção etc. Em nenhum desses casos, essa procura derivou de sinais evidentes de uma perspectiva interdisciplinar na por parte desses programas. No caso da CI, só muito recentemente, ainda timidamente, alguns programas de pósgraduação incluem disciplinas sobre informação arquivística. Até hoje , salvo engano, não exista nenhum programa de pós em CI com uma linha de pesquisa voltada para a Arquivologia. 
Dada a inexistência de programas de pós stricto sensu em Arquivologia, a pesquisa em Arquivologia no Brasil gera estatísticas a favor de outros campos, especialmente a Ciência da Informação, área na qual tem sido produzida as maiores parte das teses e dissertações com temática arquivística. A Arquivologia, caso não se reverta essa tendência, perderá em institucionalização como campo científico. Esse processo reitera uma visão da Arquivologia como área da CI, perspectiva consolidada na tabela de áreas de conhecimento do CNPq. Isso significa atualmente que toda a demanda de apoio às agências públicas para o desenvolvimento científico da Arquivologia que envolva o Estado brasileiro passa necessariamente pela área de Ciência da Informação em cujos comitês a participação de pesquisadores e docentes de Arquivologia inexiste. Claro que esse processo resulta da própria fragilidade da Arquivologia como campo científico no Brasil, algo que começa a se modificar. O arranjo político e institucional que, em agências de apoio à pesquisa e em muitas universidades tende a se consolidar no Brasil, sugere a Arquivologia como subcampo da CI.

Perversamente, quanto mais a Arquivologia cresce academicamente no interior das instâncias institucionais da Ciência da Informação ou outras áreas, mais alimenta a CI e as demais áreas e torna invisível a Arquivologia no quadro das políticas públicas de C&T. Isso não significa evidentemente que, ao ampliarmos a oferta de pós stricto sensu em Arquivologia, nossos alunos sejam desestimulados a procurarem a pósgraduação na CI ou outros campos. A Arquivologia precisa, sim, de Mestres e Doutores em outras áreas porque é um campo interdisciplinar. No entanto, a Arquivologia estará fadada a uma condição periférica e de pouca visibilidade como campo científico, se a formação dos arquivistas não contar com a pós stricto sensu no próprio campo. Da mesma forma, se estimular uma cultura de pesquisa via outras instâncias político-acadêmicas sem criarmos e fortalecermos as nossas.

Supondo que a reversão dessa situação seja um projeto do campo arquivístico brasileiro, qual a pauta que se coloca? No mínimo, mais doutores no campo da Arquivologia. Isso significa mais profissionais pesquisando, difundindo conhecimento arquivístico e ocupando espaço nas estruturas de C & T. Isso requer um trabalho árduo em termos de pesquisa e publicação, mas também político. È mais do que necessário uma Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Arquivologia, a pós-graduação stricto sensu área e as reuniões anuais de pesquisa. Estamos trabalhando para isso, especialmente após a Reunião de Brasília. Todo esse esforço poderá, inclusive, reforçar diálogos mais profícuos da Arquivologia com outros campos de conhecimento, inclusive a Ciência da Informação.

Um abraço,

José Maria


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Em 18 de novembro de 2010 15:41, Rosa Zuleide Lima da Silva Silva

Prezados colegas

Participo desde 2008 do ENANCIB acho de extrema importância esse reconhecimento e defendo o ENANCIB como um espaço para que as pesquisas em arquivologia sejam apresentadas e divulgadas, uma vez que a maioria dos cursos de graduação de arquivologia estão ligados aos departamentos de ciência da informação e os professores vinculados a pós graduação também em Ciência da Informação.

Penso que deveria ser criado um GT para arquivos. gestão e políticas de informação. Como ainda não conclui meu doutorado, não tenho cacife para propor isso no espaço da ANCIB. No entanto, sei que Isa Freire (atual presidente), é uma pessoa aberta as questões da arquivologia, até porque leciona no nosso curso de graduação e verá isso com bons olhos.

Penso que é um dos caminhos para que a área apareça e seja reconhecida institucionalmente.

Profa. Rosa Zuleide
DCI/UFPB

Reproduzido de anexo enviado por Anna Szlejcher

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