A coletânea “Arquivos do Mundo dos Trabalhadores” reúne artigos de arquivistas, historiadores e cientistas sociais que participaram, como palestrantes, do 2º Seminário Internacional “O Mundo dos Trabalhadores e seus Arquivos: Memória e Resistência”, evento promovido pelo Arquivo Nacional e pela Central Única dos Trabalhadores (CUT Brasil), em 2011. São dez artigos, iniciando pelo de André Porto Ancona Lopez, professor da Universidade de Brasília, que apresenta alguns conceitos arquivísticos para principiantes na matéria e introduz o leitor no universo dos acervos sociais. Em seguida, Benito Schmidt e Clarice Speranza apresentam as ações que visam constituir a documentação da Justiça Trabalhista, em especial os processos trabalhistas, como patrimônio histórico. Também analisam as potencialidades desses documentos como fontes.
O arquivista espanhol Antonio Gonzalez Quintana escreve sobre as operações desenvolvidas por algumas pessoas e instituições, desde o início do século XX, para recuperar e preservar arquivos do movimento operário, particularmente na Europa. Também relata sobre algumas atividades de recolhimento de arquivos operários com fins instrumentais e apresenta modelos atuais de gestão de arquivos do movimento operário em várias partes do mundo. Quintana, integrante dos “Arquivistas sem Fronteiras”, é reconhecido mundialmente pelo trabalho desenvolvido no “Grupo de Trabalho de Arquivos e Direito Humanos do Conselho Internacional de Arquivos”. Ele é autor do importante livro “Gestão de Arquivos para a Defesa dos Direitos Humanos”, lançado pela Comisiones Obreras, central sindical espanhola.
Os três artigos seguintes são de pesquisadores franceses. O historiador e cientista político Bruno Groppo nos oferece uma visão geral sobre os arquivos do movimento operário na Europa. A arquivista da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), Annie Kuhnmunch, relata a história dos “Serviços de Arquivos” na entidade e como os documentos são organizados. Elatambém traz um interessante extrato do catálogo dos seus arquivos onde estão descritos documentos que informam sobre as relações entre a CFDT e o Brasil entre 1971 e 1988. Aurélie Mazet é arquivista do Instituto de História Social da Confederação Geral do Trabalho (CGT), outra central sindical francesa. No seu artigo faz uma resenha sobre a história da CGT e do Instituto, apresenta a política documental da entidade e como se dá a gestão dos arquivos, sua classificação, divulgação e valorização. Também descreve o caso do sequestro dos arquivos da CGT durante a II Guerra Mundial, relaciona alguns fundos custodiados e apresenta a Fototeca da entidade. Os artigos da Annie e o de Aurélie referem-se também à interessante experiência do “Coletivo dos Centros de Documentação em História Operária e Social” (CODHOS), iniciativa que reúne dezenas de entidades com objetivo de desenvolver projetos para a preservação e divulgação dos acervos dos trabalhadores e dos movimentos sociais.
O próximo artigo é de Christine Coates, bibliotecária responsável pela “TUC Library Collections”. Christine foi presidente do “Comitê de Arquivos” da importante entidade “Sociedade para o Estudo da História do Trabalho”, da Inglaterra. Por motivos pessoais ela não pode vir para o seminário, mas enviou para publicação o seu artigo sobre os arquivos sindicais na Grã-Bretanha. Nele relata sucintamente quais arquivos do movimento operário inglês foram preservados, apresenta a “TUC Library Collections”, que reúne documentos da Trade Union Congress (TUC), central sindical inglesa, relaciona as principais instituições inglesas que preservam arquivos dos trabalhadores, informa sobre o programa de digitalização levado a cabo pela TUC e aponta a necessidade de se lidar com a gestão dos arquivos digitais.
O artigo do historiador Ricardo Medeiros Pimenta mostra que os arquivos sindicais são importantes campos de pesquisa para a construção das memórias. Ele também faz um trabalho comparativo sobre o desenvolvimento dos arquivos sindicais na França e no Brasil. Conclui apontando que as novas tecnologias e a informatização são desafios a serem enfrentados.
Os dois últimos capítulos do livro remetem ao arquivo rural e a memória camponesa. Guillermo Palacios, pesquisador do “Centro de Estudios Históricos” do “El Colégio de México“ nos leva à guerra civil mexicana e ao longo processo de reforma agrária que teve início no país. Discorre sobre o desenvolvimento dos arquivos, a busca de documentos pelos camponeses para terem acesso a terra e o surgimento do Arquivo Geral Agrário (AGA), entidade estatal e experiência única no mundo no âmbito dos arquivos rurais. Por fim, o pesquisador do Museu Nacional, José Sérgio Leite Lopes, discorre sobre a memória camponesa e memória operária e a experiência de trabalho com entrevistas e arquivos em território comum aos trabalhadores rurais e aos operários. Também relata o desenvolvimento do projeto Memória Camponesa e Cultura Popular e sua experiência como diretor do documentário “Tecido Memória”, produzido com operários e operárias têxteis de origem camponesa.
Organizado por Antonio José Marques, do Centro de Documentação e Memória Sindical da CUT, e Inez Terezinha Stampa, do Centro de Referência Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional, o livro traz ainda o relatório final do seminário com as recomendações, propostas e moções aprovadas.
Arquivos do Mundo dos Trabalhadores
Reproduzido de e-mail enviado por Antonio José Marques